Às vezes, enquanto psicoterapeutas, deparamo-nos com situações em que o cliente tem tudo para dar o “salto” – para arriscar uma decisão. Ele sabe o que faz sentido para si, compreende a sua situação e tem plena consciência das consequências das escolhas que se propõe a fazer. No entanto, quando chega o momento crucial, paralisa.
Já senti frustração nesses momentos. Juntos, explorámos como se sente e como tem vivido até agora, refletimos sobre possíveis desalinhamentos e procurámos inspiração para projetar um futuro mais autêntico, alinhado com quem realmente é – ou quem deseja ser, mas ainda não ousou. Falta apenas a “ação”. E é precisamente aí que tudo fica suspenso.
Talvez porque sabemos que os nossos actos nos definem. E o verdadeiro medo reside na responsabilidade de nos redescobrirmos e nos afirmarmos de forma diferente daquela que antes escolhemos.
Nessas alturas, o melhor que podemos fazer é pôr de lado a “agenda” e simplesmente estar ali, mergulhar na experiência do cliente, sem pressa para forçar um passo que ainda não se sente pronto a dar. Porque o pior que pode acontecer é ele começar a julgar-se por não conseguir avançar, frustrando-se consigo mesmo e culpando-se pelo medo que sente.
Talvez o nosso papel, nesses momentos, seja reconhecer que chegar aqui já é, por si só, um enorme progresso. Significa que tocámos na verdadeira dificuldade. E agora, importa apenas olhar para essa dificuldade através dos olhos do cliente, compreendê-la, habitá-la. No tempo certo, a mudança acontecerá – não como uma imposição ou um “ter de”, mas como um movimento natural e orgânico.
