O TEMPO QUE ME FOGE! – uma reflexão sobre gestão do tempo, autenticidade e sentido de vida


É daquelas pessoas que sente que anda sempre a correr? Que o tempo nunca chega? Que vive sob uma pressão asfixiante? Pois bem, este texto é para si (e também para mim).

É difícil começar a escrever uma reflexão sobre gestão do tempo. Logo ao iniciar sinto a desconfortável sensação de não estar totalmente presente. Dou conta disso porque reparo que a minha respiração está tensa. E esse simples detalhe mostra-me que algo importante está a acontecer dentro de mim. Algo que merece atenção. Procuro, então, parar um pouco. E eis que a tensão aumenta. É assustador, mas sei da importância de dar espaço a essa intensidade. Apenas procuro acompanhar a respiração… e, pouco a pouco, volto a mim.

O peso do corpo denuncia o cansaço. E percebo: passei o dia inteiro a correr entre tarefas de diferentes naturezas. Releio esta frase e surge uma pergunta: onde estive eu esse tempo todo? A verdade é que não estive. Revejo o dia e procuro-me na memória… mas só encontro as minhas pernas em movimento.

E se não estive, será que não existi? Claro que existi. Mas como? Existir sem estar verdadeiramente em mim não é existir plenamente. E arranjo desculpas: corri porque tinha coisas a tratar, responsabilidades que assumi, compromissos aos quais disse “sim”. Mas queria realmente fazê-los? Talvez não. E, mesmo assim, comprometi-me. Sabendo, de antemão, que mais tarde me iria queixar de não ter tempo para o que realmente desejava… só esse pensamento já me rouba o ar!

Mas porque tomo decisões que sei que me vão levar a lamentar-me? Neste instante, várias emoções emergem: primeiro a culpa, depois a frustração e, logo a seguir, a tristeza. Culpa por enganar-me a mim e aos outros. Porque quando decido ocupar o tempo dessa forma, estou a escolher como me relaciono com o mundo, com os outros e comigo mesmo. Estou a escolher viver sob pressão e a experienciar a escassez.

E como se manifesta essa forma de estar? Na sensação de não fazer o suficiente. Na perceção de falhar comigo mesmo. Na sensação de estar atrasado em relação ao futuro. Na falta de autenticidade. Na ideia de que tudo é uma obrigação. E na culpa de não conseguir dizer “não!”.

Uma leitura existencial deste problema dirá que me afasto das minhas reais necessidades. Que vivo dominado pelo receio de ficar só, de ter tempo e espaço — e de encontrar o vazio. Também dirá que tenho dificuldade em reconhecer os meus limites e em assumir escolhas que podem trazer sofrimento. Evito esse sofrimento fugindo de mim mesmo.

Mas, paradoxalmente, encontro sentido nesta forma de viver: ao mostrar-me ocupado e responsável, acredito que os outros não poderão acusar-me de falhar. É uma estratégia, ainda que inconsciente, para me proteger.

Se quiser ser verdadeiramente honesto comigo, esta reflexão leva-me a concluir algo simples e duro: sinto o tempo a fugir porque o preencho com ocupações que me afastam de mim mesmo, para não encarar o vazio que trago no peito. É uma forma inautêntica de viver, eu sei. Mas também sei que esta consciência me devolve a responsabilidade pessoal.

As escolhas que fizer a partir daqui dirão muito sobre como respeito o meu tempo, o meu espaço e, em última análise, o sentido que quero dar à minha vida.

E talvez o mesmo lhe aconteça. Talvez também sinta que corre o dia inteiro sem realmente estar presente. Se for assim, este texto é um lembrete de que, mesmo quando o tempo parece fugir, podemos sempre aprender a parar, respirar e regressar a nós. Cabe-nos a nós escolher como queremos habitar o tempo que temos.

Leave a Comment