Compreender o Ser Humano: a proposta de Sartre


Para compreender verdadeiramente o ser humano, é preciso ir além daquilo que ele diz sobre si mesmo. As palavras e reflexões contam apenas parte da história. O que revela quem somos está também nas nossas ações, nas escolhas que fazemos, tendo em conta contexto em que vivemos.

Compreender alguém implica olhar para o concreto, para a sua realidade objetiva, material, social e histórica. A vida humana não se explica em fragmentos isolados: os fenómenos estão interligados, transformando-se mutuamente ao longo do tempo.

O Homem como Ser Histórico e Social

Família, cultura e grupos sociais moldam a forma como cada pessoa se constitui. A terapia pode ajuda-nos a perceber como, desde cedo, assumimos papéis sociais, alguns assimilados, outros rejeitados. Já a sociologia permite compreender as estruturas sociais e históricas que condicionam essas vivências.

O indivíduo é, assim, fruto do seu tempo. A forma como se escolhe e age só pode ser entendida a partir da sua história pessoal e das condições concretas da sua existência.

Existir é Agir

Para Sartre, o ser do existente é aquilo que se manifesta na ação. O modo como agimos revela quem somos e como nos relacionamos com o mundo. A ação é a ponte entre a subjetividade e a objetividade; é nela que o homem transforma o mundo e se transforma a si mesmo.

O ser humano nunca está concluído. Vive num movimento constante entre passado, presente e futuro, entre aquilo que foi e aquilo que ainda pode vir a ser. O passado não o determina; o futuro é o espaço dos possíveis, onde se projeta a liberdade de ser.

Como escreve Sartre, “somente um ser que tem de ser seu ser, em vez de sê-lo simplesmente, pode ter um provir”.

Liberdade e Responsabilidade

A liberdade é inseparável da facticidade, das condições concretas da vida. Somos livres, mas essa liberdade é sempre vivida dentro de limites: sociais, culturais e pessoais. Ainda assim, cada escolha é um ato de criação de si mesmo e, ao mesmo tempo, um gesto universal.

Ao escolhermos por nós, escolhemos por todos os homens. A nossa liberdade implica responsabilidade, não apenas pelo nosso destino, mas também pela humanidade que representamos. Negar essa liberdade (agir de má-fé) é recusar a própria condição humana.

Compreender o Homem em Situação

A psicologia fenomenológico-existencial propõe uma investigação centrada no sujeito enquanto ser-no-mundo. Para compreender alguém, é preciso partir da sua vida concreta, das suas relações, do seu tempo histórico, da sua experiência vivida.

Através de uma abordagem biográfica e fenomenológica, torna-se possível aceder ao projeto de ser de cada pessoa: aquilo que unifica as suas experiências, escolhas e sentidos.

O Homem: Criador e Criado pela História

O ser humano constrói a história e é, ao mesmo tempo, construído por ela. A sua essência não está dada à partida; ela desdobra-se no existir, na relação com o mundo e com os outros.

Compreender o sujeito é desvelar o modo como a sua essência e existência se entrelaçam, revelando o seu projeto original de ser, sempre singular, mas também universal.

Em suma, compreender o homem é compreender o movimento da vida que o atravessa: as suas raízes sociais, a liberdade que o impele e o futuro que o chama. Cada existência é um processo em aberto, uma construção contínua entre o que é e o que ainda pode vir a ser.


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